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Texto Laís Matos
Algumas cidades carregam magia no ar. Ma-
gia porque parecem nos transportar para outro
mundo. Ou melhor, para outro tempo, onde o
ritmo mais lento e os sons da natureza nos con-
duzem a um profundo estado de contemplação.
Talvez, seja o ar fresco tão característico das ter-
ras que rodeiam a região da Chapada Diaman-
tina ou a rica cultura que abriga não apenas mi-
tos e lendas, como também um singular e bem
conservado patrimônio histórico, datado de
meados do século XIX, mas Lençóis é capaz de
transmitir com sinceridade essa sensação, onde
cada detalhe tem o seu encanto diferente.
Localizada na região Centro-Oeste da Bahia,
a pequena e charmosa cidade tem se tornan-
do protagonista dos destinos de ecoturismo da
Bahia, reinventando-se em infraestrutura e ser-
viços. Recheada de cores e sutilezas, Lençóis
pede para ser visitada a pé, sem pressa e com
o roteiro aberto para as pequenas aventuras –
principalmente, gastronômicas – que podem
surgir pelo caminho.
O conjunto arquitetônico e paisagístico de
Lençóis foi tombado pelo Iphan, em 1973, com
uma área de proteção de cerca 570 imóveis. Seu
acervo é formado quase inteiramente por ca-
sas e sobrados da segunda metade do século
XIX, construídos com variedades de técnicas e
pintados em cores vivas, predominando cons-
truções em estilo neoclássico e neogótico. Di-
ferente de outras cidades baianas, a arquitetura
civil temuma importância maior que a religiosa,
e não existe apenas ummonumento dominan-
te no conjunto tombado.
Construída em 1860, a ponte sobre o rio Len-
çóis é um dos cartões de visita do município e,
também, um dos pontos de partida para o de-
senvolvimento da cidade que já foi a maior pro-
dutora mundial de diamantes e a terceira cidade
mais importante da Bahia. Erguida com a mão
de obra ociosa resultante da grande seca, a pon-
te uniu os núcleos Serrano e São Félix, formados
por garimpeiros e localizados, a princípio, em
cada uma das margens do rio. Formada por três
arcos plenos, também conhecidos como arcos
romanos, a ponte possuía, originalmente, reves-
timento em reboco, mas durante os anos 2000,
foi retirado a fim de deixar a construção mais in-
tegrada ao leito do rio.
A partir dessa época surgiram sobrados e ca-
sarões que compõem a atual Praça Horácio de
Mattos. As construções de maior porte passaram
por reformas no final do século XIX e início do
século XX e receberam platibandas e elementos
da art noveau. Logo depois da ponte também
está o antigo Mercado Municipal, hoje um centro
cultural, que terminou de ser erguido em 1940. O
espaço possui uma forte conexão com a cultura
viva da cidade; já foi espaço de feira livre, do pri-
meiro cinema da cidade, dos antigos bailes e até
da primeira TV de Lençóis. Sua fachada formada
por pedras aparentes dá continuidade ao cenário
natural composto pelo rio e, junto à ponte, forma
a estrutura paisagística de um dos principais car-
tões postais do município.
Também se destaca a Igreja Nossa Senhora do
Rosário, a maior igreja do sertão baiano, constru-
ída em 1830, e a sede do Iphan, um imponente
casarão de estilo eclético que já abrigou a Casa de
Câmara, no térreo, a Cadeia pública, no subsolo,
e, depois, a Prefeitura Municipal. Segundo o his-
toriador Delmar de Araújo, omodelo dos leões foi
uma inspiração do coronel César Sá, um de seus
moradores, que, em viagem à Europa, inspirou-
-se na arquitetura do Palácio de Alhambra, situa-
do em Granada, na Espanha.
Cores vivas e sutilezas
de Lençóis: a cidade que
encanta nos detalhes
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